Há momentos que nos fazem despertar, palavras que nos fazem ressuscitar, artigos que merecem ser lidos, opiniões incitadoras de reflexão e este artigo de Miguel Esteves Cardoso, é disso um belo exemplo.
O preço da pressa
Se me perguntassem quanto tempo passei com a Maria João, nos últimos 15 anos, eu teria muitas dificuldades em não responder 15 dias ou até 15 minutos, por não saber mostrar e justificar até esse pouco tempo que passámos.
Ainda ontem acordámos às oito da manhã. Mas, às sete da tarde, apesar de termos passado o dia juntos, pareceu-nos que nos tinham roubado o dia inteiro; que tínhamos acabado de nos conhecermos.
Passo do amor à política, por amor ao meu país. A despedida do conhecido e comprovado José Sócrates deveria ter sido tão generosamente saudada como foi recebida a vitória do simpático mas inexperiente Passos Coelho.
O tempo, a ocasião e a sorte parecem ser coisas parecidas - mas são coisas muito diferentes. O ponto de vista, conforme o lugar onde se esteja e de onde se veja, importa mais do que o sentimento ou o juízo.
É sinal de ser-se feliz achar que o tempo nos foi roubado e que é pouco o tempo que tivemos e pouco o tempo que nos resta.
Não se pode dar importância de mais ao presente, seja amoroso, político ou financeiro. A pressa não é uma escolha: é uma consequência. E um preço.
Público 2011-06-08 Miguel Esteves Cardoso