sexta-feira, 27 de abril de 2012

Histórias do João Heitor

Fui a carregar ao Porto livros e mais livros. Comecei pela Porto Editora fui depois à Areosa às Edições Asa, voltei ao centro do Porto para passar na Civilização e terminar na Lello antes de ficar espancado diante de um alfarrabista que me queria vender a "Mensagem" 1a edição por 600 contos e "Portugal" 1a edição de Miguel Torga por 400 contos. O dinheiro que ganhava nos livros não me permitia tais... loucuras e quando passava pelo Porto passava pelo alfarrabista para ver se os livros continuavam na vitrina(sem os preços) e um dia perguntei-lhe se não tinha receio que lhe partissem a vitrina e lhe roubassem tais preciosidades. Respondeu-me: "João Heitor neste país ninguém rouba livros,são todos uma cambada de analfabetos".

O meu amigo galerista Francisco Lebre,que também jà morreu, tinha aberto a Galerie Magellan em Paris e eu tinha-lhe dado boleia carregando grandes preciosidades para colecionadores de Arte,à noite, ao ver-me todo derreado com o peso das caixas dos livros,convidou-me a comer um bacalhau e ouvir Fados. Fiquei admirado, pois não sabia que no Porto também se cantava o Fado. Entràmos numa casa de prestigio lá para os lados da Sé. Amador, sem conhecer grande coisa e ninguém desse meio fadista, nessa noite cantava uma mulher muito bonita, de grande porte, distinta e de grande classe.Estava vestida de branco, ao contrario dos outros que acompanhavam que estavam vestidos de preto.Ao contrario do meu habito que sempre me visto de preto, eu tinha também uma camisola branca. Sentou-se ao meu lado e ficou pela noite fora no nosso grupo.Contou-me as suas dificuldades, a exploração da qual era vitima e dos seus problemas pessoais...Perdia de vista.

Anos mais tarde alguém me falou na livraria de uma "autêntica" fadista que viera para Paris e pelas indicações que essa pessoa me dera,tirei a conclusão que era a Mané e pedi-lhe o numero de telefone.Fui encontra-la numa simples mas bonita "concierge" la para o 18ème e cantava fado quando tinha convites . Dissera-me que a malta do meio não gostava muito dela "porque dava ares de boa". Fomos duas ou três vezes ao restaurante e dei-me conta que fora dois fados gravados numa compilação, a Mané não tinha disco gravado. No prédio que guardava,havia dois senhores com grandes responsabilidades na FNAC que tinham enorme admiração pela Mané porque era uma mulher culta e falava varias línguas. Pusemos logo a maquina a funcionar e assim nasceu o seu primeiro disco "subtil" .E no Samedi 18 Octobre, no Espace Reully,21 rue Hénard Paris 12ème Metro Mongallet, Mané era a convidada de honra e o lançamento do seu "subtil" fechava o "Salon du Livre et du disque Lusophone" com mais de 500 pessoas nesta bonita sala. Mas desta vez, la estava ela, radiante e vestida de um vestido preto que lhe dava um ar de rara beleza abençoando a todos com a sua voz.Tenho a certeza que este concerto foi um dos pontos mais altos da sua carreira.

Mané, là no Alto, tu sabes que este teu disco também é meu. Isto foi em 2003, depois apresentei-te um tal Renato (penso que é este o nome) que se dizia organizador de espectaculos de fado,não sei se ficaste ou não em boas mãos, dizia-se profissional...Fechei a livraria e so soube pelos jornais que estavas muito doente foi ai que realizei porque é que não me atendias o telefone e não respondias aos meus convite...Queria-te te ver mas andamos sempre atrasados nos afectos durante a "puta" desta vida. Tenho diante de mim a publicidade do Salon onde eu escrevi:
20.30 MANE - Fado "subtil"
 
"Avec son timbre de voix forgé par lèintensité d'une vie riche en douleurs et passions,la chanteuse portugaise Mané offre une interprétation très personnelle des chants populaires de son pays,qui redonne son authenticit et un nouvel essort au FADO traditionel".
 Convivium Lusophone-Joao Heitor

quarta-feira, 11 de abril de 2012

INTERIORdaMENTE

Decidi escrever umas humildes palavras para o fantástico projecto da JS da Guarda sobre o "Interior" do nosso país.
Podem consultar em: http://interiormente.org/

INTERIORdaMENTE
No interior do nosso país está um território esquecido, abandonado e exorbitado!
Foram anos e anos de políticas falhadas, décadas e décadas de más estratégicas e de falta de visão para com o território.
Criaram-se estruturas e mais estruturas, organismos e mais organismos, tutelas sem razão ou sentido.
Olhar para o presente é um acto de coragem, um acto de resistência e inconformismo. As pessoas que vivem no Interior deste País são verdadeiros heróis, Heróis com letra grande, pois o seu território é vasto e a sua história é enorme.
Mas o seu futuro é tristonho, medonho e até mortal. Porém, há imponderáveis que poderão salvar este território, a história encarregar-se-á disso… o estrangulamento do litoral, a asfixia diária destes territórios superpovoadas levará inevitavelmente ao descontrolo, à ruptura do equilíbrio necessário para uma sobrevivência que parece tornar-se, a cada dia que passa, mais difícil para aqueles que vivem nos grandes centros urbanos.
Este estado poderá acidentalmente obrigar à fuga para o interior, na qual os que partem procuram o equilíbrio saudável para uma melhor qualidade de vida. A ocorrer este fenómeno de êxodo urbano, será necessário contrariar as intenções do poder central em desguarnecer o interior deste país.
Assistimos, nos últimos meses, ao esvaziamento e encerramento diário de serviços, ontem os SAP´s dos Centros de Saúde, hoje os Tribunais, amanhã os Serviços de Finanças, para depois de amanhã os CTT, na próxima semana as Escolas e sabe-se lá mais o quê… assim se desmantela um sistema de equidade para com as populações deste território.
O interior está farto de promessas e mais promessas, mais umas eleições e mais um discurso prometedor… passam as eleições e o interior mais interior, mais esquecido, mais ostracizado.
O diagnóstico está há muito tempo feito, sabemos quais as fragilidades e as fraquezas, por isso, só vislumbramos dois caminhos para a salvação deste território. Com efeito, ou de uma vez por todas o poder central se preocupa com o território e incentiva políticas de protecção de capitalização de investimento e serviços para o interior, ou então espera que o tempo se encarregue de trazer o que nos levou – PESSOAS.
As potencialidades deste Interior são imensas, nunca sendo demais relembrar a riqueza do seu inestimável património,a riqueza da sua produção endógena, a riqueza do turismo de natureza e porque não do turismo do silêncio, a riqueza do solo, a riqueza da flora e da fauna, e, até como disse Virgílio Ferreira, este território poderá ser um bom lar para morrer.
Mas tudo isto só poderá ser potencializado se o poder político for sensível, perseverante e firme na implementação de medidas que possibilitem e potenciem a almejada coesão territorial.
É no interior da mente que estão os afectos, os sentimentos, é no interior da mente que está a razão, é no interior da mente que está a lógica…é no interior da mente que estão as nossas potencialidades, para salvarmos o presente, projectando o futuro e recordando o passado!
Cláudio Heitor Rebelo
(Psicopedagogo)
(um Português que decidiu deixar o Litoral por acreditar no Interior deste país)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Um ano depois...

Recorrendo a uma analepse, estamos há um ano atrás e o 1º ministro José Sócrates apresenta o PEC IV com o acordo da UE e da Sr.ª Merkel. Este acordo evitaria a entrada da Troika e, assim respiraríamos, à semelhança de outros países europeus, com algum alivio e desafogo, não tendo que recorrer a ajudas externas. Eis que então, que o líder da oposição Passos Coelho mais o “pantelho” do Catroga, com a aquiescência do Anibal, diz ao país: “Não aceitamos mais sacrifícios aos portugueses, por isso votamos contra este PEC IV”. A história segue como sabemos… eleições, promessas e certezas do líder do PPD/PSD: “ Comigo a ideia de cortar os subsídios de férias ou de Natal seria um DISPARATE EXTRAORDINÁRIO!” Eis que fez o contrário.

Agora promete, ele e o Gaspar, que em 2015 haverá novamente subsídios pois bem, em 2015 já não será 1º ministro, nem o Gaspar o profeta dos números… é a sina dos governos de coligação, nunca chegam ao fim!

Passos Coelho prometeu que não iria à carteira dos mais desprovidos. Foi! Que não aumentava impostos, lol…Passos Coelho declarou que não continuava com aumentos escandalosos. Aumentou. Prometeu um governo mais pequeno, com menos assessores e mordomias, MENTIU, aumentou o nº de Secretarias de Estado e não podemos comparar as assessorias pois, a qualquer momento, surge mais uma nomeação… Comprometeu-se a não referir as políticas do anterior governo. Quebrou esse compromisso e sempre que não tem argumentos para justificar as suas incompetências, lá apresenta ele o homem, o causador de todas as crises, nacional e internacional, o grande causador de toda a crise na Grécia, na Espanha, na Itália, na Irlanda, na Bélgica e quiçá nos Estados Unidos…José Sócrates.

Enfim, não vamos falar das nomeações da Caixa Geral de Depósitos e de outras em tudo semelhantes nas quais o único critério é o cartãozinho do PPD… Sabemos como as coisas funcionam mas quem não quer ser lobo não lhe veste a pele e lembramo-nos bem das promessas eleitorais: “Comigo não haverá promiscuidade nas nomeações… Guarda, Maio de 2011”.

O que todos sabemos e os portugueses sabem-no muito bem, é que:
“UM ANO DEPOIS, COM PASSOS COELHO, os JUROS passaram de 8,5% para 12,7% e DESEMPREGO passou para 15%. O IVA, na electricidade e gás, passou de 6% para 23% e na restauração de 12% para 23%. OS COMBUSTÍVEIS batem recordes históricos, a administração pública ficou sem os subsídios de férias e Natal; a ECONOMIA afundou-se e o indicador de CONFIANÇA está em mínimos históricos. O DÉFICE ORÇAMENTAL aumentou para 4,5% e a DÍVIDA PÚBLICA passou de 107,8% para 112,5%. A TRAGÉDIA DA DIREITA TROUXE A TRAGÉDIA AO PAÍS!” (gotadeagua53@blogspot.com)

Este (des)governo há muito que perdeu a graça, porém a oposição necessita de se reencontrar e urge aparecer um líder que faça os portugueses acreditarem que este neoliberalismo levará, por fim, o país ao suicídio.