quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sócrates e Aquiles…

A política de Sócrates falha essencialmente no excesso da política de Guterres, o Diálogo.

Se Sócrates não fosse assaz arrogante e conseguisse explicar com alguma humildade aos Portugueses as suas reformas, de modo a que estes as entendessem, estaríamos certamente próximos de uma nova maioria absoluta.

Vejamos, como exemplo, esta última medida apresentada no programa eleitoral para as próximas legislativas, que consiste na promessa de uma “conta futuro“ de 200 euros por cada bebé que nasça. A informação, hoje avançada pelo porta-voz João Tiago Silveira, revela que o dinheiro será depositado em nome do bebé, podendo ser levantado quando o titular completar 18 anos.

Entretanto, até essa data, os pais poderão reforçar a conta, através de deduções fiscais, em muito semelhantes às estabelecidas para as contas Poupança Reforma.

Ora aqui está uma bela medida mas que tem o seguinte ónus, o porquê só agora, levando-nos a questionar porque não foi esta executada ao longo da legislatura ainda em vigor. Tal como inúmeras outras, para os Portugueses, em geral, esta iniciativa é vista como uma mera promessa eleitoral.

Sócrates perdeu, ou melhor não foi capaz de dialogar com o País ao longo destes 4 anos, colocando-se agora a seguinte dúvida:

Será que os portugueses estão interessados em ouvi-lo?

Mais do que socialista sou esquerdista, razão pela qual sou obrigado a reconhecer a capacidade reformista de Sócrates, o que faz de mim um defensor asserido das suas medidas. Não obstante, não partilho da forma como implementou as mesmas.

Sócrates é o primeiro-ministro que o país precisou, precisa e precisará para sair desta crise nacional e global, mas o seu problema comunicacional torna-se o seu “calcanhar de Aquiles ou língua de Aquiles” enquanto espera por uma resposta eleitoral.

O país precisa de uma informação bilateral, e os feedback são de suma importância para reconduzir Sócrates ao lugar de primeiro-ministro.

sábado, 11 de julho de 2009

É URGENTE REPENSAR...


É urgente repensar, inflectir, para que se não cometa uma das maiores atrocidades paisagísticas no Douro Vinhateiro, com atenção particular ao ancião Vale da Veiga de Longroiva, junto à ribeira de Piscos.

« Esta planura ocupa o extenso "graben" que ali se formou. Durante mais de dois milénios aquele espaço foi destinado essencialmente ao pastoreio, mantendo um extenso baldio junto da ribeira. A partir de meados do século XIX tornou-se uma zona rica de vinhedos e de olivais, após a arrematação ou a ocupação abusiva dos baldios por parte de alguns senhorios. Quase no extremo norte do vale mantém-se ainda um testemunho do aproveitamento agro-pecuário, que a Ordem de Cristo aqui fez, conservado no nome da "Quinta do Chão de Ordem"».


A conclusão da construção do IP 2, que finalmente ligará as duas capitais de distrito Guarda e Bragança é, sem dúvida, uma via estruturante ao desenvolvimento destas regiões. No entanto, é importante repensar e inflectir sobre o que parece estruturante e vital, que no futuro se poderá revelar fatídico tornando-se numa “betãonizada”, afectando um dos vectores importantíssimos da região, o Turismo e o desenvolvimento agrícola.

A sua riqueza paisagística e todo o património envolvente, ficará atolado com a construção deste traçado rodoviário.

Reparamos já que houve alterações ao traçado inicial, tendo certamente funcionado influências como é prova o desvio à Quinta do Vale Meão.

Não vou incentivar desconfiança entre como e quem está adjudicar e concessionar os terrenos... Porém os interesses em cumprir prazos e a excessiva celeridade é, por vezes, um péssimo indicador e precipita a ignorância. Celeridade não é sinónimo de rigor, desconhecem-se os estudos efectuados, sobre o seu impacto ambiental, paisagístico, arqueológico, patrimonial...e quais os critérios impostos que levaram a este atropelo feroz e que certamente irão culminar na destruição de um dos mais belos lugares da nossa Região.

Infelizmente é impossível ver alguns Durienses, que já não habitam entre os mortais (Aquilino Ribeiro ou Miguel Torga ), levantarem-se contra este atentado certamente com a astucia de quem melhor sabe expressar o demais evidente, obrigando os agentes políticos envolvidos a repensar a atrocidade que estão a cometer.

Hoje, 11 de Julho, no salão nobre da Câmara Municipal de Mêda, o Secretário de Estado das Obras Públicas (Dr. Paulo Campos) e o Presidente da Câmara Municipal de Mêda (Dr. João Mourato) assinam provavelmente o atestado de óbito do Vale da Veiga.

Mais uma vez, o Sr. João Mourato nada faz, nada fez para impedir este traçado do IP 2. Este ficará certamente na história como um dos responsáveis por este assassinato, marcando-a como um inerte que nada faz para o bem do concelho da Mêda.

Assumo que este desabafo poderá ser tardio, mas como diz o povo: “Vale mais tarde do que nunca...” e denunciar o erro, tentando que este não se torne uma realidade irreparável e irremediável .

sexta-feira, 10 de julho de 2009

25 de Abril... Sempre.


Estou decidido a escrever com maior regularidade, aproveito para expor a minha intervenção na sessão solene da Câmara Municipal de Mêda, relativa às comemorações do 25 de Abril.

Por incrível que pareça este ano o edil do município resolveu dar um ar de Homem de Abril, até cravo envergou na lapela.. Que Maria Madalena, tão arrependida... ele está.

Porque Será? Do Guaraná? Ou do vinho, da já extinta Adega Cooperativa da Mêda??

Ou pesa-lhe já a Consciência do mal que tem causado...e da perseguição que faz constantemente aqueles que não partilham das suas convicções...

O Mourato é uma espécie de iogurte fora do prazo....

( além de não ter sabor, já é um perigo para a saúde pública do nosso concelho.)

Aqui deixo a transcrição da minha intervenção relativa ao 25 de Abril.



25 de Abril, Sempre…

Começo este meu intrometimento, fazendo uma breve resenha de um tempo anterior ao 25 de Abril de 1974, o antes da Revolução, nada melhor que recordar o inicio de um dos belos poemas do célebre saudoso José Carlos Ary dos Santos - “As Portas que Abril Abriu”- que caracteriza um Portugal, como

Um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raíz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos dos passado
se chamava esse país
Portugal suicidado

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos


E poderia continuar com este poema para representar o país cinzento, empobrecido, atrasado, oprimido, coagido à tirania do fascismo e o censuricidio como prática constante.

Assim, o 25 de Abril amanheceu com tonalidades de coragem e determinação, no movimento conduzido pelos oficiais intermédios da hierarquia militar (o MFA), na sua maioria capitães com experiência na Guerra Colonial, iniciou-se a
Revolução dos Cravos, nome pelo qual se popularizou o golpe de estado militar que derrubou, num só dia, sem grande resistência das forças leais ao governo de Marcelo Caetano, que cederam perante a revolta das forças armadas, pondo fim ao regime político que vigorava em Portugal desde 1926.

Ao longo desta operação foram dados sinais de revolta, a desopressão era inevitável a revolução estava na rua, homens, mulheres, novos e velhos acreditavam num país novo.

Nesta manhã de Abril, floriu a esperança de uma nação livre, livre de opressões, livre de guerra, livre de espírito, livre no sentir, livre de dogmas, livre nos direitos humanos e livre para construir uma democracia.

Foi com a revolução de Abril que os partidos deixaram a clandestinidade, os mais pequenos partidos puderam ambicionar ser maiores. Aqueles que outrora foram opositores seriam um dia poder.

Foi com a revolução de Abril que o poder local ganhou autonomia, que o poder local se modernizou e dinamizou políticas mais próximas das pessoas.

O país encheu-se de coragem e de esperança, porém nem tudo foi fácil, perigos como o Comunismo espreitavam esta neófita democracia comparada com a de outros países, no entanto foi suficientemente inspiradora a Revolução de Abril, tendo sido a menos sangrenta que ainda hoje é exemplo para o mundo.

Esta revolução serviu de nascente para o poder institucional e a génese da nossa Constituição.

Estes 35 anos de Democracia não são a meta mas sim o caminho que continuamos a percorrer na consolidação de uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais livre.
No campo ideológico vive-se uma dinâmica globalizante de transformação diária. O mundo é hoje global e as exigências mudaram os paradigmas são outros e a atenção de todos é imperiosa para dar resposta às necessidades sociais de forma a combater as discriminações ainda existentes.

A participação cívica é hoje mais do que nunca obrigatória, a criação de novos movimentos cívicos são o baluarte e a garantia que Abril não acabou. O país está diferente, melhor na educação, melhor na saúde, melhor em muitas outras áreas vitais para a vanguarda de um país moderno e adaptado aos novos desafios.

Hoje 35 anos depois da revolução de Abril, o país está diferente, somos mais 2 milhões de portugueses. É um facto que as famílias têm menos filhos, hoje vive-se mais tempo e a chegada de novas culturas tornou-nos mais cosmopolitas, mais universais. Só com esta riqueza cultural é que poderemos voltar a estar na linha da frente, só assim os vários saberes poderão tornar-nos mais ambiciosos na ciência e na investigação. O mito Salazarista do “orgulhosamente sós”, há muito que não faz sentido, hoje somos Europeístas e não estamos num bunker isolados do mundo.

Contudo, não podemos anunciar que não existam perigos e que tudo está feito, é necessário agir, há outras preocupações, emergem novos perigos para a liberdade individual e colectiva, mecanismos ferozes e demolidores que podem ser nefastos para actual sociedade.

Paul Legrand ensinou que a educação é permanente, pois só assim a democracia é eficaz, os perigos das novas tecnologias quando se submetem à perversidade humana em vez do interesse social, podem desencadear o fracasso global. A sociedade necessita do seu próprio auto-controlo, precisa de se auto-regular. Esta auto-regulação não pode ser confundida com um sistema de controlo que debilite a democracia, porque se ocorrer uma deriva totalitária instrumentalizada nas mãos dos mais poderosos, a regressão ao passado é um pequeno passo. Não se pode permitir que a liberdade individual possa estar em perigo, não podemos aceitar que sejamos controlados electrónica e ideologicamente, e se aceite que toda a nossa vida seja reconstruída por outros e não por nós. A participação cívica de todos é mais uma vez um dos grandes desafios que temos pela frente, como disse há poucos dias o general Ramalho Eanes «É tempo de mudarmos porque já não temos tempo para continuar a ter medo. É tempo de mudarmos porque as linhas de futuro que levam ao futuro que desejamos são nós e mais ninguém que as pode abrir».

Se Abril abriu portas, estas jamais poderão ser fechadas. Os políticos têm de ser responsáveis porque são os actores das decisões e não podem construir um futuro que possa hipotecar gerações.

Por último e falando de nós, interior deste país, dois terços do nosso território, a vitimização da interioridade não pode servir de álibi para os responsáveis autárquicos que estrangularam e hipotecaram concelhos que hoje estão no caminho do definhamento destes municípios, a pouca inspiração e o comodismo instalado são hoje a maior preocupação do país.

Durante muitos anos tem se assistido ao mesmo discurso por parte de autarcas e políticos da nossa praça, que dizem: Somos interior ajudem-nos, combatamos as assimetrias, estamos esquecidos… Tem sido sobre esta batuta que os discursos se têm moldado, com mais algum tempero de malignidade e assim se fomenta a cegueira há muito instalada. Encontrem-se fórmulas, estratégias, ideias que possam contrariar este triste estrangulamento.

Por último e por surpreendente que pareça quero congratular a Autarquia da Mêda por finalmente e provavelmente a última sede de concelho deste país a colocar um nome de uma rua em comemoração à Revolução de Abril.

Que o sentido de Abril seja finalmente concretizado no nosso município muito em breve.

Termino, com palavras de Manuel Alegre:

Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
na esperança de um só dia.

Viva o 25 de Abril, Sempre.