domingo, 25 de outubro de 2009

As fraquezas da nossa Democracia...



A tentação de não pecar ou melhor, a tentação de não desagradar à oposição levou Sócrates à impulso de nomear ministros independentes, possuidores de um conhecimento técnico e operacional, mas também discretos do ponto de vista das elites sociais.
Porém não se escusou de nomear, para sua esfera nuclear e de proximidade, alguns nomes previsíveis e que denotam continuidade na sua saga reformista.
Teixeira dos Santos, Luís Amado, Pedro Silva Pereira e Vieira da Silva são nomes mais do que previsíveis, desejáveis dada a sua importância no aparelho partidário do PS. Note-se que, neste seio, o afastamento de Augusto Santos Silva e a não promoção de Jorge Lacão podiam causar danos internos e a implosão poderá ainda acontecer se Ascenso Simões e Luís Patrão, entre outros, próximos de Sócrates não forem nomeados para gerir algumas das mais importantes Secretarias de Estado.
Aquando da constituição de um Governo, as tentações são sempre muitas... Serão talvez menores quando as maiorias relativas não permitirem o olhar atento de não hostilizar em demasia a oposição.
Por isso, foi importante afastar os Ministros que mais impopularidade suscitaram em determinados sectores sociais e profissionais.
Este posicionamento foi uma variável necessária para que ecluda, nos próximos tempos, algum estado de graça e assim, a apresentação do programa de governo e o próximo orçamento de estado possam passar, sem grande contestação ou com a abstenção necessária às suas aprovações. Questões estas não falíveis apenas para o Governo, existe de igual modo, uma responsabilidade acrescida para os partidos da oposição. Mas a história nem sempre se repete. Comparar o actual sistema político Português e contextualizá-lo com o que vigorou, há mais de 22 anos atrás, é um exercício anacrónico, extemporâneo, o risco e a resposta dada em 1987 pelos Portugueses não será porém de descartar enquanto solução a uma oposição irresponsável.
Os Portugueses fartaram-se de eleições e o que mais precisam é de respostas efectivas aos problemas do seu quotidiano. O desemprego é a gigante preocupação, pela sua intrínseca ligação à economia.
Os Portugueses não entendem que a economia pode crescer com o emprego a diminuir, como exemplo do nosso país vizinho, no decorrer dos governos de Felipe Gonzáles isso aconteceu. Pode servir de exemplo mas não de antídoto para as dificuldades das nossas famílias.

Julgo que a imaginação conjugada com determinação, pode ser importante na superação desta crise económica e social. A continuidade de Ana Jorge, Rui Pereira ou mesmo Mariano Gago são garantia de uma menor adversidade à impopularidade. Neste neófito governo a paridade não será também manchete de discussão, o que vem acrescentar créditos na popularidade do mesmo. Realce-se que este governo com mais mulheres, aproxima-nos da norma europeia, no entanto afasta-nos com um número acrescido de ministros independentes. Como escreveu Pedro Adão e Silva, ao Jornal I « É verdade que a entrada de novos ministros, recrutados fora da esfera partidária e governativa, revela capacidade de atracção, quando se temia que ela já não existisse. Mas, acima de tudo, esconde um conjunto de fragilidades do sistema partidário português. Fragilidades que, em lugar de serem contrariadas, são reforçadas. Os independentes tendem a revelar-se, com excepções, casos problemáticos de inabilidade política (risco que é maior quando não há maioria absoluta). Mas são essencialmente um sintoma de fraca institucionalização dos nossos partidos. Nas democracias do Norte da Europa há poucos ministros vindos de “fora” do sistema partidário: ou são previamente eleitos para o parlamento ou são “ políticos profissionais”, saídos dos aparelhos partidários ou sindicais.
Num caso e noutro, há incentivos para os melhores irem a votos e, o que não é menos importante, para se envolverem na vida política. Em Portugal temos sistematicamente o incentivo contrário. A mensagem é clara: "Se ambicionas ser governante, afasta-te dos partidos." Esta mensagem tem várias consequências - degrada (ainda mais) a imagem dos partidos e secundariza o seu papel na configuração da governação, ao mesmo tempo que tenta resolver pela porta do cavalo a sua fraca ancoragem social. Se calhar, as quotas de que precisamos são as que obrigam os ministros a serem eleitos em listas partidárias.»


Com este novo Governo, surge a dúvida ao nível de conflitualidade, que será emergente entre o poder e o contra-poder. E eis que surgem as dúvidas: Sócrates será capaz de esconder dentro de si o animal feroz e a austeridade de governar? Não cairá na tentação de ceder a alguns lobbies que afrontou no Governo anterior? Continuará este primeiro-ministro a preferir quebrar do que torcer? Sócrates terá já cogitado das dificuldades parlamentares, certo de uma oposição que vai querer Governar sem assumir responsabilidades...?
A capacidade de saber governar e o tempo que durará este Governo estará dependente da astucia política de Sócrates e dos seus ministros, para impossibilitarem a Oposição a governar a partir do Parlamento. Por isso, o destino dos socialistas e o dos partidos da Oposição será traçado em eleições e aí o que mais contará será o estado da economia. A economia será o factor determinante da Governação, se a crise for superada de pouco valerá à oposição lamentar-se, Sócrates será o grande vencedor.
Aguardemos pelos próximos capítulos, das fraquezas da nossa democracia...


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Uma Escola...

Por vezes, somos surpreendidos com raciocínios de bastante interesse de autores que não temos a maior das admirações e por quem presumivelmente não tem um conhecimento específico sobre o assunto tratado. Neste caso, é um texto de António José Seguro sobre o tema “ A Escola Ideal”, não é um texto que transmita algo de concreto que se possa concretizar no presente, um novo paradigma mas sim, uma ilusão, uma utopia futurista que norteia e que aguce um desafio constante e permanente.
Será sempre difícil para um político poder desligar-se dos mecanismos e automatismos que a mesma nos obriga. A visão de um pedagogo, é sempre um desafio diferente e terá uma perspectiva mais naturalista, contudo rendo-me ao texto de António José Seguro, porque não deixa de ser uma visão da qual tem um interesse na defesa de uma escola de todos e para todos, com a quimera necessária de que um dia a escola seja como Comenius a projectou “Ensinar tudo a todos”.

Cito:
Na escola ideal para os meus filhos “todos são filhos e não háenteados”. Todas as crianças são tratadas pelo seu nome. Há meninos emeninas de várias culturas e nacionalidades. As origens e os percursosde vida são conhecidos e partilhados. A diferença é cultivada evalorizada como uma riqueza da Humanidade. A diferença suscita acuriosidade, o interesse e o respeito. Ser diferente soma e une.Na escola os professores são referências. Pela sua visão do mundo,pelo que sabem, pela forma como transmitem o conhecimento, pela suadisponibilidade e pela sua dedicação, exclusiva, a ensinar a aprender.
Os professores são pessoas felizes e realizadas. São amigos.Na escola ideal ensina-se a aprender e a ter gosto em continuar aaprender ao longo da vida, dando expressão à ideia de Agostinho da Silva que a escola deve ser um local onde eu possa ir 24 horas pordia, 365 dias no ano, perguntar tudo o que não sei e poder conversarcom todas as outras pessoas que vão fazer o mesmo que eu.Na escola ideal não há apenas alunos e professores. Há pais e toda umaaldeia, uma vila ou uma cidade necessária para a educação de cada umadas crianças. Há professores e profissionais especializados.
Nesta escola não há muros nem grades divisórias. É integralmenteconstruída em paredes de vidro - bem no centro da cidade.
A escola é o coração do espaço público e os seus jardins e espaços verdesconfundem-se com a envolvente urbana. As vias pedonais atravessam aescola e o campo de recreio é visível por todos. Nesta escola aeducação cívica não substitui a educação devida pelos pais mascomplementa-a na busca de uma sociedade mais solidária. Não há temas tabus e a educação sexual é encarada com naturalidade.
Os comportamentos violentos, de discriminação e de bullying são abordadose discutidos por todos e a inclusão é explicada como forma de vida. Não se escondem as desigualdades sociais e explica-se abertamente porque razões existem e de que forma podemos corrigi-las. A escola ideal não reproduz a sociedade. Puxa pela sociedade. Vai à frente.Na escola ideal há livros que não param de chegar e que se juntam aosclássicos. Apreende-se a História do meu país e a Universal. Desenvolve-se a compreensão. Aprendem-se línguas. A língua portuguesaem primeiro lugar. Estimula-se o raciocínio, a criatividade e aimaginação.
As crianças não abandonam a escola sem saberem ler,escrever, contar e falar. A escola prepara para a vida. Para o mercadode trabalho, mas também a ser Homens e Mulheres. Profissionais empreendedores, competentes e cidadãos responsáveis.Uma escola exigente, com igualdade de oportunidades para todos, quenão deixe ninguém para trás e que garanta condições de afirmaçãoindividual das competências de cada aluno.Uma escola com tempo para aprender, para praticar desporto, brincar econviver. Uma escola que promove as ideias e incentiva a critica. Que ensina a utilizar as novas tecnologias e nos envolve no mundo dasartes. Onde se aprenda que o ser é mais importante que o ter.