quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Uma Carta ao Pai Natal

Uma Carta ao Pai Natal aos 40 anos.

Decerto, que todos nós, nas nossa infâncias escrevemos cartas ao Pai Natal, os que as não puderam escrever, acabaram por idealizar um rol mais ou menos vasto de preces lúdicas, pessoais ou até de segurança.

No nosso imaginário infantil, havia desejos lúdicos, projecções e expugnações pessoais… a conquista de um beijo da miúda mais gira da turma, e quiçá a possibilidade em jogar na equipa dos mais velhos no recreio da escola ou que o matulão da turma, fosse o nosso protector e nos protegesse dos nossos inimigos!

O que todos desejávamos era a felicidade pessoal e por consequente os amigos também seriam contemplados! Por falar em amigos não esqueço aqueles que convivi na Praça (casa dos meus avós), os do Terreiro, os da Rua do Café dos meus pais e até os da Portela da Devesa que eram astutos na luta das fisgas… Era assim que vivíamos no inicio da década de 80! Recordo-me da primeira carta que escrevi ao Pai Natal, fi-la com o meu amigo Nuno (Cholas), escrevemos uma data de folhas sobre a mesa da cozinha na casa onde nasci, a casa dos meus avós. Pedimos tanta coisa, tantos brinquedos, tantos jogos e quase de certeza o desejo de o Sporting poder ser Campeão Nacional. A história acabou mal, a mãe do Nuno, fartou-se de o procurar, não sabia onde ele andava e terminou com umas palmadas…o nosso plano falhou e não enviamos as cartas, não por falta de selos, mas porque perdemos a morada do Pai Natal.

As cartas ao Pai Natal serviam para projectar o nosso inconsciente com imensa fantasia, a fantasia de acreditar que teríamos tudo ao longo da nossa vida: Amigos, amigos, amigos e mais amigos e a família. Mais tarde a ordem trocou-se e aí o Pai Natal era coisa do passado, tão passado que já sofria de Alzheimer e já se tinha esquecido da nossa existência. Nessa altura o que desejávamos eram roupas de marca, umas miúdas giras para sair, uma scooter, uns livritos, uns CD`s, umas noitadas sem hora para chegar a casa e, se possível, tirar umas notas porreiras para que os cotas não nos chateassem a tola.

Depois os desejos passaram a ter uma natureza mais académica, podermos entrar na Universidade, ter um carro para as noitadas, umas férias com os amigos e dinheiro na algibeira para que nada nos faltasse… depois, vieram os trinta e agora, que já cá moram os quarenta o que posso pedir ao Pai Natal? Como pedir não paga imposto, vou pedir, aquilo que antes parecia menos importante: Saúde e Saúde! A Saúde para que a vida permita todo o remanescente, o suficiente para que este País possa dar oportunidades aos mais jovens e às gerações que sentem o seu futuro hipotecado. Um país que não viva para pagar dividas à Banca, mas que possa bancar uma escola pública, um sistema nacional de saúde gratuito, um acesso à Cultura para todos e que aqueles que nada têm possam viver com o mínimo de dignidade humana. Um país menos homofóbico e menos xenófobo, um país que não discrimine aqueles quem têm uma orientação sexual ou ideológica diferente da nossa.

Um país desenvolvido que não mande aos seus jovens emigrar, que não dê oportunidades e regalias só para aqueles que mais têm!

Se esse país se transformar e se tornar real para todos, ficarei saciado e repleto de esperança que as minhas filhas possam acreditar que o Pai Natal é um fixolas!


Para terminar a minha primeira carta ao pai natal, escrita de forma digital, faço o apelo para que ele me envie o endereço pessoal, para que desta vez, a possa ler e assim não seja extraviada. Aguardo ansiosamente pelo teu e-mail, pois amanhã, já é dia de Natal!

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Uma história do 1º de Maio de 1974



Há uma história que me contaram há muitos anos sobre o 1º de Maio de 1974 em Lisboa, que não esqueço, e gosto de a contar nesta altura do ano.

Depois da revolução do 25 de Abril, a grande manifestação popular deu-se nas comemorações do 1º de Maio, então os vários partidos preencheram murais, com palavras de ordem, como exemplo: PCTP/MRPP " O 1º de Maio é Vermelho", o PCP: "O 1º de Maio é Revolução", o PS: " O 1º de Maio é o dia do Trabalhador", etc.

Então, no meio de tantas mensagens, há uma faixa que se destaca, a dos Monárquicos, talvez liderada pelo Prof. Ribeiro Teles que dizia "O 1º de Maio é Feriado!".

Em suma, esta história demonstra o valor da democracia!

PS- Numa altura em que as pessoas se deslocavam por vontade própria e havia poucos autocarros!!!

quinta-feira, 26 de março de 2015

A ESTRANHA

A ESTRANHA 
(autor desconhecido)

Alguns anos após o meu nascimento, o meu pai conheceu uma estranha, recém-chegada à nossa pequena cidade.
Desde o início que o meu pai ficou fascinado com esta encantadora personagem e, de seguida convidou-a a viver com a nossa família.

A estranha aceitou e, desde então, tem estado connosco.

Enquanto eu crescia, nunca perguntei sobre qual o seu lugar na minha família; na minha mente jovem ela já tinha um lugar muito especial.
Os meus pais eram professores... a minha mãe ensinou-me o que era bom e o que era mau e o meu pai ensinou-me a obedecer.
Mas a estranha era a nossa narradora.
Mantinha-nos enfeitiçados durante horas com aventuras, mistérios e comédias.
Sempre tinha respostas para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência.

Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro!
Levou a minha família ao primeiro jogo de futebol.
Fazia-me rir e fazia-me chorar.
A estranha nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava.
Às vezes, a minha mãe levantava-se cedo e calada, enquanto nós ficávamos a ouvir o que tinha para dizer, mas só ela ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora pergunto se ela teria rezado alguma vez para que a estranha fosse embora).

O meu pai conduzia o nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se sentia obrigada a honrá-las.
As blasfémias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos na nossa casa… por nós, pelos nossos amigos ou por qualquer um que nos visitasse.

Entretanto, a nossa visitante de longo prazo usava sem problemas a sua linguagem inapropriada que às vezes queimava os meus ouvidos e que fazia o meu pai se retorcer e a minha mãe se ruborizar.
O meu pai nunca nos deu permissão para beber álcool. Mas a estranha animou-nos a tentá-lo e a fazê-lo regularmente.
Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e os cachimbos fossem especiais.

Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Os seus comentários eram às vezes evidentes, outras sugestivos, e geralmente vergonhosos.
Agora sei que os meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente durante a minha adolescência pela estranha.
Repetidas vezes a criticaram, mas ela nunca fez caso dos valores dos meus pais, mesmo assim, permaneceu no nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que a estranha veio para a nossa família. Desde então mudou muito; já não é tão fascinante como era no princípio.

Não obstante, se hoje pudesse entrar na guarida dos meus pais, ainda a encontraria sentada no seu canto, esperando que alguém quisesse escutar as suas conversas ou dedicar o seu tempo livre a fazer-lhe companhia...
O seu nome? Ah! O seu nome…

Chamamos-lhe de TELEVISÃO!
É isso mesmo; a intrusa chama-se TELEVISÃO!
Agora tem um marido que se chama Computador, um filho que se chama Telemóvel e um neto com o nome Tablet.
A estranha agora tem uma família. Será que a nossa ainda existe?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Ora aí estão eles…40!


Ora aí estão eles…40! Uma data rechonchuda que mistura o saber à nostalgia.

Enfrentar os 40 anos parece para alguns não ser tarefa fácil, abundam os clichés e as redundâncias quando se fala na entrada nos “entas” fazendo, de certo modo, temer este novo ciclo da vida.

Eu pessoalmente, há muito que encarnei o provérbio chinês: “ a juventude não é um ciclo da vida, mas sim um estado de espírito ”, mas olhando para o atrás debruço-me sobre o que foram estas 4 décadas de vida.

Foram anos bons, outros menos bons e, até houve pelo meio, anos maus. Mas aprendi que a vida é assim mesmo, entre a vertigem de se viver o limite com a paciência de acalmar o nosso quotidiano. Nesta mescla da vida há tudo o que é comum ao ser humano e como não sou excepção, vivenciei alegrias, tristezas, sucessos, insucessos, ilusões, decepções…

A vida foi assim ao longo destes 40 anos. Aprendizagens, autonomias, responsabilidades, emancipações fizeram parte do processo de desenvolvimento… Mais tarde aprendi no meio dos vários saberes e com a visão de Vygotsky, que não há aprendizagem sem desenvolvimento! 
Viver livre desde os 15 anos, altura em que fui estudar para Coimbra fizeram-me ser assim, fui rebelde e criei a minha forma própria de olhar o mundo e as coisas. Depois foi Aveiro, Lisboa, Belmonte, novamente Lisboa, a Guarda e o regresso à terra Natal. Quanto ao futuro? Há desafios para ponderar…

Estes anos serviram de amadurecimento humano, neste percurso houve encontros e desencontros e pelo meio apareceu gente que espero não ter que lidar mais… mas também muitos que partiram precocemente e que sinto saudade. A morte do meu pai e do meu avô Joaquim marcaram a crueldade da vida, a frieza de saber que não somos donos de nada, que não comandamos nada e Deus também leva os que mais amamos.

O Presente, é auspicioso pois tenho uma nova família ou como costumo dizer as minhas novas Marias. Com elas cresci o suficiente, para saber que tudo é diferente e que a vida é demasiadamente maravilhosa.
Há também a restante família e os Amigos, porque são muitos, para eles, Um OBRIGADO do tamanho do MUNDO.  

Antes de concluir, a pergunta do quarentão: O que seria da vida sem inimigos? Provavelmente seria 
insípida! A minha bisavó Maria, dizia que não há nenhum Homem que preste se não tiver inimigos! Eu acrescento, que as criticas deles são grandes elogios e os assobios são palmas de grande aclamação. Também para eles o meu Bem-haja!

Termino como comecei, ora aí estão os 40!Por isso, venham mais e dos bons!


PS – Aqui fica o meu reconhecimento, de que tudo isto só foi possível graças ao esforço dos meus pais. Agradeço as oportunidades que tive em poder viver o que vivi… e quase sempre à minha maneira!