domingo, 29 de janeiro de 2012

Grito de um livreiro!

Porque conheço e convivo com o meu tio livreiro e com alguns dos seus momentos de voluntariado por uma causa bem nobre, a de divulgar a nossa literatura, divulgar o nosso genoma literário... no fundo, a forma de levar o pensamento, o sentir português aos quatro cantos do mundo...
Depois de sentir as dificuldades deste português que sempre quis divulgar a cultura lusófona na Cidade das Luzes, resistindo a este mundo globalizante, sem regras e ou ética. Lá ia resistindo às Fnac´s e outras grandes magazines que, sem dar hipótese à concorrência vendiam pacotes de boa e má literatura, enfim, tudo o que o mundo actual nos oferece, ao preço da chuva. Os tempos são outros, são tempo de abate, matam-se sem dó os livreiros, uma classe sem sindicato, uma classe sem apoios, como consequência fecham-se livrarias, ontem a Lusóphone, hoje a livraria Portugal, amanhã talvez a Almedina e, para a próxima semana, serão umas tantas a encerrar as portas e a liquidar a Literatura.
A propósito, deixo um pequeno texto do meu tio João que postou no meu mural do facebook, no dia que completei 37 primaveras. É um grito que me emocionou e que não poderia deixar de publicar.

Desculpem-me, deixem-me gritar: Merda! Onde estão os Homens da minha Terra? Onde estão os poetas? Os pintores? Os escritores? Os intelectuais? morreram todos? Após um dia de trabalho à volta dos livros, leio uma mensagem de um grupo de amigos livreiros noticiando o próximo encerramento da Livraria Portugal, ali mesmo no Chiado. Sou do tempo em que não havia internet e que os portes dos livros para o estrangeiro custavam, às vezes, mais do que os livros e era obrigado agarrar na carrinha e saltar as fronteiras à procura de"contrabando cultural".

Quando chegava a Lisboa, a primeira coisa que fazia, antes de passar nos editores, era de ir à LIVRARIA PORTUGAL a ver as novidades, as cores das capas,o cheiro dos livros e, sobretudo, falar com os meus Amigos livreiros que estavam ao corrente de tudo que era livro. Com o carro carregado e preste a voltar à França recebia sempre um telefonema que dizia "João Heitor preciso dum livro..." e corria eu à Portugal porque era o sitio mais certo para encontra-lo. E assim nascem as amizades entre livreiros e o desconto da "praxe" nem era preciso "regatear".

Fecha a LIVRARIA CAMÕES no Rio de Janeiro e fecha agora a LIVRARIA PORTUGAL em Lisboa, ali mesmo no Chiado onde se ouvem ainda os passos de um Fernando Pessoa, de um Eça, de um José Régio, Almada Negreiros para não falar do Saramago e outros que por ali andam e andarão até à destruição do Chiado.

Um país sem livreiros e sem livrarias é um país mais tacanho e menos culto, é mais arrogante e menos livre, é menos feliz e com um futuro menos risonho. Na minha Terra as portas dos lugares onde transita o saber, fecham-se. Na minha Terra se abrem AS PORTAS DA EMIGRAÇÃO... Ah Terra em que os políticos te transformaram em Terra Madastra em terra que não pão...


Um abraço para todos os que fizeram desta livraria, com o nome de Portugal, uma referência para todas as livrarias e livreiros portugueses.


João Heitor, livreiro e editor em Paris (espécie de animal em vias de extinção mas mas não protegida).