O que aconteceria se alguém me
pedisse para elaborar uma play list? Seria certamente uma tarefa dificílima...
Já lá vão os tempos em que devorava álbuns, correndo às discotecas para ouvir
as novidades, primeiro em Coimbra, a seguir em Aveiro e depois em Lisboa - (Almedina
(Coimbra), Oxigénio (Aveiro), Fnac (Lisboa)- sem esquecer as idas ao Porto, com
os amigos Sampaio e Óscar, para percorrer a Vandoma à procura de vinis a bom
preço.
Este era o tempo do vinil, depois
seguiu-se o tempo do CD e, por último, a música deixou de ser a mesma coisa...
Hoje, tudo se tenta refazer mas nada se faz como antes (o que foi não volta a
ser, por muito que se queira) – neste sentido, recomendo vivamente a leitura de
um artigo, do último domingo, do inconformado Miguel Esteves Cardoso - Público.
Uma noite destas em casa do Rui
Salazar, em conversa com o Óscar, partilhamos momentos de especial saudade e
robusteci a ideia de que a música é, sem dúvida, um dos maiores prazeres que a
vida me tem dado. Sem ligar tanto ao que é novidade, nesta panóplia sonora que
temos nos nossos dias, e sem sair de casa.
É certo que hoje saborear
novidades não é mesma coisa, basta um click e tudo nos aparece, já não é
necessário esperar pela próxima edição do Blitz ou estar até às tantas da manhã
para ouvir a hora do lobo do António Sérgio ou a aguardar pelos conselhos do Álvaro
Costa e porque não esperar que a Xana e o Zé Pedro (Vira o Video? - RTP) nos
apresentassem novos projectos e novas bandas, uma época em que o Grunge (Som de
Seattle) ganhava forma e a flanela era doce como algodão. Era um programa que tinha o seu top 10 de video clips e a
apresentação das novas tendências da altura. Foi neste tempo que tomei
conhecimento de muitas das bandas que ainda nos dias de hoje fazem parte das
minhas preferências sonoras.
Por isso decidi, elaborar uma
pequena play list de 25 músicas que, de uma forma ou de outra, marcaram parte
da minha adolescência, juventude e o início de vida a(brupta)dulta… esta
preferência, tem uma exclusividade de momentos!
A play list tem como inconveniente
ser uma lista pouco alternativa (como gosto) e ter muito de pop. Antes que seja
tarde, as minhas sinceras desculpas a tantas senhoras que foram omitidas por
lapso e, do que seria da música sem o 6º sentido… A tantos e tão bons ou
melhores, sorry…
A ordem desta lista é aleatória,
sem que as variáveis do tempo, tendências, sejam escrupulosamente respeitadas.
1 - U2 – “the fly”. Para
muitos críticos o álbum “Achtung Baby ”, foi o inicio de um novo ciclo da banda
Irlandesa, há quem diga que foi o inicio do pop e o fim de uma banda
alternativa. No entanto, este foi o segundo álbum (vinil) que comprei com os
meus 15 anos, deliciei-me como nunca e aprendi a voar como uma mosca, qualquer
música deste álbum teria uma história para contar. Vi-os três vezes ao vivo,
mas o 1º concerto deles em Alvalade ficará para sempre…
http://www.youtube.com/watch?v=_82IYrdM2vU
2- James – “born of frustration”
.Foi o meu terceiro álbum “Seven”,
ouvi vezes sem conta e todas as músicas eram momento de êxtase em qualquer
discoteca da altura. Um concerto imperdível, patrocinado pela Rádio Energia em
Coimbra, marcaram um dos lados mais popeiros da minha juventude, adorava a
performance em palco do vocalista (Tim Booth). Não sei se este tema nasceu de
alguma frustração, mas que me fazia dançar como um tolo...fazia!
http://www.youtube.com/watch?v=QxM42rG0a08
3- Jorge Palma – “à espera do fim”
do álbum Só. Este álbum foi editado em 1991, mas só em 1993, tive acesso a
desfruta-lo. Antes tinha aprendido a gostar de Jorge Palma, através da minha
tia Graça, ainda muito miúdo, achei que este gajo era diferente, tão diferente
que anos mais tarde me ajudou amadurecer enquanto pessoa. Ouvi este tema em
viagens, no quarto, no café, em tantos sítios, até chegamos a cantar em pleno
Académico (Carlos Miguel, Marisa e com a Xana) enquanto o resto da malta tinham
ido ver John Zorn ao Teatro Gil Vicente. Esta música tem uma carga ideológica
que me pôs a pensar! E desde aqui, tudo foi diferente. Jorge Palma, infelizmente,
não foi consistente, vi nele um lado fantástico, mas também um lado degradado no
álcool. Bons Concertos (Aula Magna, Coliseu, Casino de Lx e outros)- Maus
Concertos (Arrais do Académico, Semanas Académicas por este país…). Pelo meio,
falei com ele duas vezes e partilhei a minha admiração.
http://www.youtube.com/watch?v=qfo29wSakIU
4- The Cure – “lullaby”. Foi
das primeiras músicas que ouvi dos The Cure, ainda no tempo das jukeboxes
(salão de Jogos – Maria Helena) e, desde aí, aprendi a gostar de Robert Smith.
Este tema é intemporal à semelhança de “friday im in love” que dancei muitas
vezes na discoteca States em Coimbra ou no Incógnito em Lisboa.
http://www.youtube.com/watch?v=ijxk-fgcg7c
5- David Bowie – “space oddity”.
David Bowie é provavelmente o maior ícone musical (vivo) das últimas décadas. O
camaleão do rock, com uma adaptabilidade fácil aos novos tempos, como prova o seu
recente álbum (the next day). Destaco este tema, porque sempre que o ouço,
parece que é a primeira vez.
http://www.youtube.com/watch?v=cYMCLz5PQVw
6- Lou Reed – “walk on the wild side”. Este
tema faz-me lembrar o tempo em que se dançava na Broadway, de forma colectiva
(5 passos para a frente, 5 passos para trás). Será impossível dissociar LouReed
aos Velvet Underground, uma referência para a eternidade.
http://www.youtube.com/watch?v=WZ88oTITMoM
7- Iggy Pop – “beside you”. O
lado rebelde e um concerto memorável em 1994 (Coimbra). Escolhi este tema porque
marca um Verão intensamente forte e cheio de emoções (1994). O seu início de
carreira através da sua passagem pelos Stooges, não é o lado que mais aprecio.
Candy, passenger, real wild child, lust fo life, entre tantos outros temas
ficaram para sempre nas minhas memórias musicais, associado a um dos filmes da
minha vida (Trainspotting).
http://www.youtube.com/watch?v=RrpS_H2FZC0
8- Nick Cave and Bad Seeds – “straight to you”.
Infelizmente nunca vi ao vivo Nick Cave, duas vezes que tentei ver, mas
sem sucesso. Cresci com Nick Cave e foi dos (poucos) ídolos que tive na minha
juventude. Por vezes, vestia-me de acordo com o estilo de Nick Cave.
http://www.youtube.com/watch?v=CYbOHXMtelU
9- Peter Murphy – “cuts you up”. A
música deste senhor estará sempre associada à influência da sua passagem pelos
Bauhaus. O meu inglês foi sempre muito mau e não esqueço que ouvia este tema
sem ter a noção da sua letra, mas como era tão bom, nunca me importei com isso.
Há um projecto/banda associada a esta rapaziada que não posso deixar de
mencionar (Love and Rockets).
http://www.youtube.com/watch?v=UrfFHzqGBZI
10- Pearl Jam – “jeremy”. A fase
pura e dura do grunge. O garruço, o cabelo comprido, as camisas de flanela…
eram acessórios necessários para nos identificarmos com uma geração rebelde e o
sonho de poder um dia viver em Seattle. “Single”, foi um filme que não esqueço,
pois identifica um estilo próprio de vida, de quem queria ser independente e
livre de preconceitos. Recordo-me de ir à Almedina e comprar este álbum (Ten)
para o Tó Sampaio, escutei-o umas poucas de vezes, antes de o entregar ao seu
destinatário. Estávamos no início de uma grande época de novas sonoridades. Uns
anos mais tarde presenciei um grande concerto deles no Pavilhão Atlântico. Com
todo o respeito aos Nirvana, DinosaurJr., entre outros Pearl Jam são a
referência.
http://www.youtube.com/watch?v=MS91knuzoOA
11- Mão Morta – “em directo para a
televisão”. A minha banda portuguesa. Uma enorme admiração por Adolfo
Luxuria Canibal. Assisti, sempre a bons concertos, até na Mêda. Em directo para
a televisão é um tema que me inspira folia e rebeldia.
http://www.youtube.com/watch?v=JZIOOP8lgMA
12- Young Gods – “gasoline man”.
Porque na Suiça também se faz boa música. Um país que não vive apenas de contas
bancárias… Grande concerto em Coimbra e passadas quase duas décadas no
TMGuarda. Gasoline man foi o primeiro tema que conheci deles e desde aí foi
sempre uma enorme satisfação.
http://www.youtube.com/watch?v=YxWLVRlGa10
13- Tindersticks– “can we start again”. A
consistência de uma banda que me educou musicalmente. Este tema é certamente o
tema mais vezes ouvido no meu carro. Grandiosidade destes britânicos de
Nottingham. Entre a melancolia e uma beleza impar, este tema serviu para
resolver amores e desamores durante longos períodos de instabilidade
sentimental. Registo para um grande concerto no TMGuarda em 2010.
http://www.youtube.com/watch?v=WQZQ4WU3As0
14- Marianne Faithfull – “alabama song”.
A grande Senhora. Palavras para quê. Interpreta como ninguém. Alabama song, já
foi cantado por muita gente, mas ninguém como ela. Ouvir…
http://www.youtube.com/watch?v=9T59ej_TlXE
15- Portishead –“glory box”.
Portishead marcam um momento particular difícil da minha vida, conheci através
do Dino. Começou por uma sugestão musical que desencadeou momentos de alguma
melancolia, mas também de grande introspeção. Este tema marca uma época de luto
(morte do meu pai) e que me despertou para conhecer outras bandas de Bristol.
Recordo-me como se tornou contagiante ouvir Portishead no JDM café. Toda a
malta me pedia emprestado o CD para gravarem.Anos mais tarde estive em Bristol
mas as tendências já eram outras…
http://www.youtube.com/watch?v=yF-GvT8Clnk
16- Zeca Afonso – “índios da meia
praia”. Para Sempre… Zeca é único, as suas letras, a sua musicalidade, a
sua intervenção. Quem não gosta de Zeca, não gosta de música. Uma singularidade
da música portuguesa (intervenção) e este, é um dos muitos belos temas da sua
vasta discografia. Recordo-me da sua morte e da manifestação de solidariedade
que se desencadeou por todo o país. Bons tempos do 1910, Diligências bar em
Coimbra, sítios onde se recordava Zeca com muita saudade.
http://www.youtube.com/watch?v=J7ntDFAF1AE
17- Fausto – “navegar navegar”.
Por este rio acima é dos discos que mais ouvi e que mais saboreei. Fausto,
Pedro Barroso e José Mario Branco são parte do genoma musical que melhor se fez
em Portugal. Tive o privilégio de os ouvir e de adorar. Navegar, navegar é das
músicas que melhor personificam a história do nosso país.
http://www.youtube.com/watch?v=QbT2sdsRbjw
18- Sérgio Godinho – “namoro”.
Belas letras e um belo intérprete. Este tema, não é da sua autoria, mas é sem
dúvida uma bela interpretação. As três vezes que assisti Godinho ao vivo foram
em espaço aberto, gostava de um dia assistir a um concerto em espaço fechado
para saborear a intimidade das suas músicas.
http://www.youtube.com/watch?v=ohtCKeNuiI8
19- Pixies – “where is my mind”. Provavelmente
a melhor banda de rock alternativo. Admiro o trabalho a solo de Frank Black,
mas Pixies são Pixies (ponto)! Este tema fala por si, tantas vezes que
perguntamos: “Onde está a minha mente?”. Um tema que se ouvia frequentemente na
Jukebox ou no Incógnito em LX (um lugar de muito bom gosto e de muitas noites
que o diga o Dartagnan).
http://www.youtube.com/watch?v=5iC0YXspJRM
20- Violent Femmes – “add it up”. Recordar
os melhores verões na Mêda é ouvir Violent Femmes. Ao som deles, apanhei grandes
bebedeiras e grandes noitadas. Ambrósios Bar sem Violent Femmes é uma espécie de
mar sem ondas.
http://www.youtube.com/watch?v=QHapDS2fcFE
21- The Smiths – “what difference does
it make?”.Dissociar Morrissey aos Smiths é tarefa impossível, uma vez
que a sua carreira a solo fala por si. Recordo-me dos tempos em que via os seus
fãs usarem flores nos bolsos de trás das calças, nunca tive essa tentação mas
reconheço que ainda pensei em usar.
http://www.youtube.com/watch?v=Uzp5ocWvzck
22- Múm – “green grassof tunnel”.
Múm e Sigur Rós são bandas que personificam que é possível fazer boa música sem
que se percebam as letras das próprias músicas. Conheci múm, quando estava por
Lisboa, numa altura em que me deram a conhecer muitas sonoridades e bandas de
grande talento, mas entre elas, Múm despertou todo o interesse. Este e outros
temas relaxantes faziam cortar o stress lisboeta e equilibrar a mente.
http://www.youtube.com/watch?v=oHTFmJk7fH0
23- Joy Division – “love will tear us apart”. Será que podia viver sem Joy Division?
Poder podia, mas certamente que não seria a mesma coisa! Tema obrigatório em sessões que fui requisitado para DJ. O filme “Control”
marca uma fase de inconstância e de particular dificuldade da minha vida. Um
outro tema marcante é o “atmosphere”, tema que muitas vezes encerrava as sessões
do States.
http://www.youtube.com/watch?v=qHYOXyy1ToI
24– Fujiya and Miyagi – “ankle injuries”.
Este tema marca um verão complicado, mas de grande mudança (2006).
http://www.youtube.com/watch?v=N5XVeENmLMk
25– Nouvelle Vague – “dance with me”. Será
impossível escolher qual o tema que melhor define “como tudo começou, com a
Joana…”, mas foi ao som dos Nouvelle Vague que conheci a mulher da minha vida e
mãe da minha filha. Desculpem mas este álbum tem muito de pessoal e não posso
extravasar o super-ego.
http://www.youtube.com/watch?v=KitcvxK9bzU
Ena Pá (2000), então não é que me
esqueci dos SexPistols, do Brian Ferry e de mais Galaxie (500)… Ai que SaUdaEDE
dos SonicYouth.
PS -Toda esta ideia surgiu depois
de escutar a play list do ex líder da JSD na TSF (sinceramente que grande
minimidade sonora do moço, que pobreza).