Uma Carta ao Pai Natal aos 40
anos.
Decerto, que todos nós, nas nossa
infâncias escrevemos cartas ao Pai Natal, os que as não puderam escrever,
acabaram por idealizar um rol mais ou menos vasto de preces lúdicas, pessoais
ou até de segurança.
No nosso imaginário infantil,
havia desejos lúdicos, projecções e expugnações pessoais… a conquista de um
beijo da miúda mais gira da turma, e quiçá a possibilidade em jogar na equipa
dos mais velhos no recreio da escola ou que o matulão da turma, fosse o nosso
protector e nos protegesse dos nossos inimigos!
O que todos desejávamos era a
felicidade pessoal e por consequente os amigos também seriam contemplados! Por
falar em amigos não esqueço aqueles que convivi na Praça (casa dos meus avós),
os do Terreiro, os da Rua do Café dos meus pais e até os da Portela da Devesa
que eram astutos na luta das fisgas… Era assim que vivíamos no inicio da década
de 80! Recordo-me da primeira carta que escrevi ao Pai Natal, fi-la com o meu
amigo Nuno (Cholas), escrevemos uma data de folhas sobre a mesa da cozinha na
casa onde nasci, a casa dos meus avós. Pedimos tanta coisa, tantos brinquedos,
tantos jogos e quase de certeza o desejo de o Sporting poder ser Campeão
Nacional. A história acabou mal, a mãe do Nuno, fartou-se de o procurar, não
sabia onde ele andava e terminou com umas palmadas…o nosso plano falhou e não
enviamos as cartas, não por falta de selos, mas porque perdemos a morada do Pai
Natal.
As cartas ao Pai Natal serviam
para projectar o nosso inconsciente com imensa fantasia, a fantasia de
acreditar que teríamos tudo ao longo da nossa vida: Amigos, amigos, amigos e
mais amigos e a família. Mais tarde a ordem trocou-se e aí o Pai Natal era
coisa do passado, tão passado que já sofria de Alzheimer e já se tinha
esquecido da nossa existência. Nessa altura o que desejávamos eram roupas de
marca, umas miúdas giras para sair, uma scooter, uns livritos, uns CD`s, umas
noitadas sem hora para chegar a casa e, se possível, tirar umas notas porreiras
para que os cotas não nos chateassem a tola.
Depois os desejos passaram a ter
uma natureza mais académica, podermos entrar na Universidade, ter um carro para
as noitadas, umas férias com os amigos e dinheiro na algibeira para que nada
nos faltasse… depois, vieram os trinta e agora, que já cá moram os quarenta o
que posso pedir ao Pai Natal? Como pedir não paga imposto, vou pedir, aquilo
que antes parecia menos importante: Saúde e Saúde! A Saúde para que a vida
permita todo o remanescente, o suficiente para que este País possa dar
oportunidades aos mais jovens e às gerações que sentem o seu futuro hipotecado.
Um país que não viva para pagar dividas à Banca, mas que possa bancar uma
escola pública, um sistema nacional de saúde gratuito, um acesso à Cultura para
todos e que aqueles que nada têm possam viver com o mínimo de dignidade humana.
Um país menos homofóbico e menos xenófobo, um país que não discrimine aqueles quem
têm uma orientação sexual ou ideológica diferente da nossa.
Um país desenvolvido que não
mande aos seus jovens emigrar, que não dê oportunidades e regalias só para
aqueles que mais têm!
Se esse país se transformar e se
tornar real para todos, ficarei saciado e repleto de esperança que as minhas
filhas possam acreditar que o Pai Natal é um fixolas!
Para terminar a minha primeira
carta ao pai natal, escrita de forma digital, faço o apelo para que ele me
envie o endereço pessoal, para que desta vez, a possa ler e assim não seja
extraviada. Aguardo ansiosamente pelo teu e-mail, pois amanhã, já é dia de
Natal!