Quando em 1998 fui viver para Lisboa na minha rotina diária/académica passava pela Avenida do Restelo em direcção à Avenida da Torre de Belém, nesse cruzamento, via ao final da tarde um Senhor de óculos pretos e de cabelos brancos que acenava constantemente, dizia Adeus a todos que por lá passavam.
Não sei o porquê, mas sempre que por lá passava, quase sempre o via, dizia eu para os meus botões: “Boa Tarde Sr. Woody Allen do Restelo!”. Longe de imaginar que esta personagem gostava de cinema.
Passados alguns anos, passei a vê-lo, diariamente junto ao Saldanha! Deixei Lisboa em 2010 e nunca mais o vi! Soube recentemente que também em 2010 o Senhor do Adeus, nos tinha deixado, talvez a “A Deus” se tenha entregado.
O Senhor do Adeus” chamava-se João Manuel Serra. Pelo que parece não era pintor, músico, escritor, nem poeta e muito menos homem de grandes paixões… Porém, toda a gente o conhecia e, mais importante do que isso, toda a gente o adorava. Quem passava pelo Saldanha, encontrava um homem que combatia a solidão com a doçura de dizer adeus.
Assim ficou conhecido. Parabéns aos Lisboetas que ontem souberam o homenagear e pelo que parece até uma lápide, foi colocada no Saldanha, na zona onde habitualmente acenava aos automobilistas.
Um homem vulgar que ficará na memória de muitos. Quando a simplicidade é contagiante nas nossas vidas, ou como escreveu Fénelon “ A simplicidade é uma rectidão da alma que corta qualquer volta inútil sobre si mesma e sobre as suas acções.”, os pequenos nadas tornam-se enormes!