"André Ventura escreveu sobre mim, nas redes sociais, com uma foto minha na CNN, diz que passei de um "tacho" a outro e "odeio" o Chega. Vejamos, o percurso de ambos, o dele e o meu, face aos "tachos". E porque o Chega quer fazer de Portugal um Bangladesh.
Sou professora na UNL, ganho 2400 euros, e, na RTP, 2/3 do que ganhava ia para o Estado, por ter exclusividade como docente.
O vídeo que irritou Ventura é onde explico, e fi-lo pro bono, porque o Chega é uma organização perigosa, fascista, cujo objectivo é calar, pela violência, os portugueses, para fazer disto o Bangladesh. Sim, o Chega quer fazer de Portugal um Bangladesh de leis laborais.
Por isso fala de burkas e está calado com o código laboral. O pacote laboral, se não for derrotado com uma greve geral a que eu chamaria por simpatia "Greve geral, Isto não é o Bangladesh" propõe que, quem cá vive, passe a trabalhar 50 horas por semana, possa ser despedido sem justa causa, não se possa sindicalizar, e seja impedido de fazer greve, tudo o que estava no programa do Chega (que está em acesso livre no meu blogue mas foi apagado pelo Chega). Tudo o que estava no programa de Salazar.
É natural que fique irritado com as minhas palavras, já que o Chega singrou protegido pelos jornais, sem contraditório, que o tratavam como "direita populista", ocultando assim a ameaça que representa para a sociedade portuguesa esta organização, que só por absurdo se pode chamar "partido". Há muito que este "partido" se comporta como uma milícia, à vista de todos, nas TVs, no Parlamento, nos outdors - amedronta, grita, coloca cartazes criminosos, persegue nas redes sociais. Uma claque fascista, contra quem vive do trabalho.
Expliquei (com evidências, não berros e mentiras) também como o maior corrupto da história de Portugal foi Salazar, como distribuiu pelos amigos a riqueza do país, torturando quem resistia. André Ventura, cujo partido é financiado por patrões ligados ao CTT, ex-acionistas privados da TAP e gente ligada ao antigo BES, ganha, há 7 anos, como deputado, em salário directo e subsídios mais de 5 mil euros. E do Partido, que recebe milhões de subsídios do Estado, com os nossos impostos, paga-lhe mais? E antes disso, Ventura era advogado de vistos gold - quanto ganhou nesse tacho? Quantos portugueses ficaram sem casa pelos vistos gold que ajudou a conseguir Ventura?
O que fazem os 60 deputados do Chega, hoje, pelo país, ganhado todos 4 e 5 vezes mais que os professores ou enfermeiros, operários ou motoristas?
Já não sei quantas horas de trabalho, pro bono, dediquei a ajudar sindicatos, comissões de trabalhadores, associações, manifestações, greves e protestos. Em breve vamos lançar um livro sobre a destruição da saúde de quem trabalha na AutoEuropa, desde que foram obrigados a trabalhar ao Domingo. E lançámos esta semana um jornal, com sindicatos e gente da cultura, o Jornalmaio.org, o qual não só faço pro bono como pago, orgulhosa, uma quota.
Sou também historiadora das revoluções. Lançaremos dentro de dias uma história desse 25 de Novembro que Ventura quer celebrar. Porque o 25 de Novembro enterrou a democracia de base nos locais de trabalho. Demonstraremos, com rigor, como o PREC foi uma revolução de base, libertária e igualitária, e não o "caos" que os Venturas, com a AD e IL querem fazer passar. Ganharei 5% dos direitos de autor, e trabalhei nele talvez mais de 10 anos. Irei com esse dinheiro jantar fora, talvez dar um passeio de bicicleta.
Há 30 anos que estou ao lado dos que trabalham, contra quem os explora até ao tutano. Ventura está ao lado dos que exploram, maltratam e humilham quem trabalha. Estamos em campos opostos.
Ventura quer fazer do país um Bangladesh. Eu quero ajudar a libertar os trabalhadores, do mundo, do Minho ao Nepal, da América ao Bangladesh, somos todos trabalhadores e o nosso único inimigo comum chama-se lucro, monopólios, capitalismo, guerra, austeridade e fascismo.
Não defendo que os intelectuais devem ganhar pouco ou trabalhar gratuitamente. Ninguém vive do ar. Há muito tempo que este país devia pagar 5 mil euros, e emprego seguro, a professores, escritores, artistas e jornalistas, e a todos os que trabalham. Ao preço que está a habitação e alimentação seria um salário mínimo de decência. Mas hoje - quero mesmo dizer -, que o meu tacho é só um - entusiasmo e felicidade por estar ao lado de quem trabalha, contra quem tem poder, estes dias no Maio ver as pessoas juntas, a pensar e agir, que shot de alegria. Contra a mentira e o medo, para que o poder seja de todos, uma democracia real, que só pode nascer nos locais de trabalho. Viva a vida!"

In, Raquel Varela