segunda-feira, 18 de agosto de 2025
"Deixar arder o Mato" - Rui Carvalho Martins
“Deixa arder o Mato”
Milhares de hectares de mato abandonados à sua sorte arderam enquanto os homens defendiam as suas casas, quintas, armazéns, carros, tractores, em suma o que lhes pertence. O Mato é território que não se explora e como tal é esquecido pelos homens.
“Temos ordens para utilizar meios aéreos exclusivamente para proteger casas”
As casas construídas pelos homens são salvas do descontrolo de quem não se quer compreender. O Mato é amoral e leva tudo sem contemplações, urge combater este monstro sem rosto nem alma. Defendamos os nossos!
“Cinco feridos e duas casas afectadas pelo fogo, no entanto ninguém morreu”
Os homens salvaram-se das garras do Mato, um desfecho vitorioso face à voragem assassina do monstro que lavra tudo.
Os homens saíram vitoriosos. Aquilo que lhes pertence está quase intacto. O Mato, esse, saiu derrotado. Um lastro negro testemunha a sua derrota. Com ele levou o condimento perfeito para as reuniões sacras dos homens, o alecrim que tempera o cabrito que celebra o renascimento do Deus dos homens. Leva também o doce que afaga os corações dos filhos dos homens, o mel de rosmaninho. Terminam as longas jornadas à procura dos míscaros protegidos pelas raízes dos agentes da destruição.
Afónicas ficam as casas dos homens sem os tenores e sopranos que habitam no monstro.
Esfomeados ficam os homens que perderam a caça que lhes dá força.
Desalmados ficam os homens quando, ao seu redor, só vislumbram as cinzas do Mato.
O poeta diz “O Amor é o fogo que arde sem se ver”
E quando se vê?
Rui Martins
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