terça-feira, 17 de maio de 2016

Então e o povo pá?

Um texto de Carlos Barbosa de Oliveira, que reflecte bem, o país que temos e o conformismo inerente. Aqui fica:
Lembram-se da aliança Povo/MFA? E do "Povo Unido Jamais será vencido?"

Neste 25 de Abril andei a procurar esse povo. 

Durante a procura lembrei-me de uma pergunta que há tempos me fizeram na caixa de comentários. Em tom crítico perguntavam-me:

Então e o povo pá?

Quis dar uma resposta, mas reparei que me faltavam alguns esclarecimentos.

Optei, por isso, por colocar algumas questões aos leitores, na expectativa de os esclarecimentos que me vierem a ser facultados me permitirem responder cabalmente a quem me interpelou:

Então, começo por perguntar:

Qual povo, pá?

O que votou duas vezes em Cavaco, sabendo que ele tinha entre o seu círculo de amigos um grupo de criminosos, responsáveis por parte da crise em que o país mergulhou?

O que viu os salários reduzidos, a pensão de reforma do pai amputada e o subsídio de desemprego da mulher terminado ao fim de seis meses e depois foi votar PSD para que tudo continue na mesma?

O que vota sempre no mesmo partido, como se fosse um clube de futebol?

O que recebe o RSI mas depois vota no CDS, ignorando que foi esse partido que mais tentou impedir que lhe fosse concedido esse direito?

O que diz que precisamos de dez Salazares para salvar o país?

O que afirma convictamente que vivíamos melhor no tempo do Salazar?

O que em dia de eleições prefere ficar na praia a ver o por do sol, em vez de votar?

O que se marimba para os referendos?

O que culpa os políticos por todos os males do país, mas não participa na vida cívica?

O que prefere ficar em casa a ver as manifs pela televisão a sair à rua?

O que acha a política uma chatice?

O que diz a culpa de tudo isto foi do Sócrates?

O que prefere manter-se desinformado, lamentar-se da vida e penitenciar-se dizendo que a culpa é dos corruptos, mas depois não pede a fatura ao eletricista, para não ter de pagar IVA?

O que prefere os saldos do Pingo Doce à manif do 1º de Maio?

O que acusa de malandros os que recebem o subsídio de desemprego?

O que pensa que os problemas do país se resolviam despedindo milhares de funcionários públicos que andam a coçar o cu pelas esquinas, mas mete uma cunha a um amigo para arranjar um biscate ao filho lá na Direcção Geral?

O que diz cobras e lagartos do SNS, mas corre para as urgências dos hospitais públicos assim que dá um espirro e protesta por ter de esperar duas horas para ser atendido?

O que acusa a polícia de nunca estar onde é preciso e depois diz que há polícias a mais?

O que se queixa da falta de civismo dos outros, mas estaciona o carro em cima de uma passadeira, numa curva, em segunda fila ou em cima do passeio?

O que ameaça um funcionário das finanças (ou passa mesmo à agressão) porque está revoltado com o montante do imposto que lhe foi cobrado?

O que diz que em Portugal só quem trabalha é que paga impostos, mas quando no restaurante lhe perguntam se quer factura, diz que não?

Bem, pá, parece que esse povo está porreiro. Continua a lamentar a situação do país, mas pensa que não há solução enquanto os velhos não morrerem e os funcionários públicos continuarem a ter uma carrada de privilégios - que não sabe exactamente quais são mas de que já ouviu falar. 

Por tudo isso, baixa os braços e fica à espera que a crise passe. E se no dia das eleições não tiver mais nada que fazer, lá vai votar nas cores do partido de que é adepto.

Eh pá, lamento muito, mas para esse povo não tenho pachorra!

Ou, parafraseando a Helena Vaz da Silva, por esse povo não faço Puten! A não ser, quiçá, o gesto do Bordalo...

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